Será que há mesmo diferenças entre o pescado selvagem e o de aquacultura? E como devemos escolhê-lo? Tive o privilégio de ir à fonte certa encontrar as respostas certas.
Para melhor mergulhar nos temas do peixe, procurei a ajuda de Narcisa Bandarra, Investigadora e Chefe da Divisão de Aquacultura, Valorização e Bioprospeção do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Em cinco respostas, a especialista, que há muito se dedica à investigação dos organismos marinhos e dos seus benefícios para a saúde, e que foi minha convidada no último programa, diz-nos tudo o que precisamos de saber sobre esta grande riqueza da costa portuguesa que é também protagonista de muitos pratos na nossa gastronomia.
1 – O peixe de aquacultura tem a mesma qualidade do peixe selvagem?
O peixe é um alimento de alto valor nutricional e a sua inclusão na nossa alimentação traz diversos benefícios para a saúde, desde um saudável desenvolvimento cognitivo das crianças à prevenção da doença cardiovascular. Infelizmente, algumas espécies de peixe selvagem encontram-se sobre-exploradas, o que se traduz num declínio de capturas.
Neste contexto, o peixe de aquacultura é uma valiosa alternativa, pois apresenta idêntico valor nutricional. Estudos de comparação com cenários alternativos demonstram que o peixe de aquacultura é preferível à carne.
Acresce que há peixes de aquacultura cujo benefício para a saúde supera até o de muitas espécies de peixe selvagem. Dentro destes, destacam-se os peixes mais gordos, dada a sua gordura saudável rica em ácidos gordos ómega-3 e em vitamina E, como é o caso do salmão.
A aquacultura enquanto processo de produção permite a rastreabilidade e o uso de métodos de conservação adequados a uma elevada qualidade do produto final.
2 – Qual é a espécie de peixe que mais produzimos em aquacultura?
Em Portugal, os tipos de peixe mais produzido nesse sistema são a dourada, o pregado, o robalo legítimo e a truta arco-íris. As quantidades produzidas são ainda modestas, o que resulta em significativas importações de Espanha e de outros países.
3 – Que cuidados devemos ter quando escolhemos o peixe?
A escolha deve ser criteriosa. Devem privilegiar-se os pequenos peixes pelágicos (‘peixes azuis’), como carapau, sardinha, cavala e sarda, pois são ricos em ácidos gordos ómega-3.
Os peixes de profundidade e os grandes predadores são, geralmente, magros – a gordura que possuem é constituída por ácidos gordos ómega-3 -, mas o seu consumo não deve ser elevado. Por exemplo, o consumo de peixe-espada-preto, espadarte e, particularmente, tintureira deve ser moderado, por causa da acumulação de alguns metais por estas espécies.
Por outro lado, deve dar-se atenção à frescura ou ao tempo de congelação. Um peixe fresco, em geral, é identificável pela limpidez dos olhos, brilho da pele e tom vermelho vivo das guelras. Já quanto ao peixe congelado, deve privilegiar-se o que foi capturado e embalado há menos tempo.
Com efeito, quer a perda de frescura quer um longo tempo de congelação têm efeitos negativos, tais como a oxidação da gordura e, inevitavelmente, a perda dos benefícios associados aos ácidos gordos ómega-3.
4- Como podemos evitar os metais pesados, como o chumbo e o mercúrio?
O consumo de pequenos peixes pelágicos permite evitar a ingestão destes metais. Os peixes de aquacultura, por serem produzidos sob condições controladas, também são solução para evitar exposição aos contaminantes. De qualquer forma, importa referir que o risco é mínimo na larga maioria das espécies de peixe, sendo só relevante em espécies predadoras, especialmente nas que referi antes. A melhor estratégia é uma repartição dos consumos que diminua a frequência destas últimas espécies e favoreça os chamados ‘peixes azuis’.
5 – Quais são os peixes com maior valor nutricional?
São os que aportam maiores benefícios para a saúde, como os peixes azuis, dada a sua riqueza em ácidos gordos ómega-3.
Acresce o facto de serem uma fonte equilibrada de proteína de elevado valor biológico e alta digestibilidade, fornecendo em quantidades significativas os aminoácidos essenciais à boa manutenção do organismo, de realçar os níveis de lisina (necessária ao crescimento infantil).
São também ricos em vitamina A (essencial à visão, saúde da pele e tecidos), vitamina D (fundamental na absorção do cálcio e do fósforo) e vitamina E (efeito antioxidante) que contrariamente aos peixes magros se localizam essencialmente na carne.
São ainda uma boa fonte de vitaminas do grupo B, em particular da vitamina B12, que intervém em muitos processos metabólicos, como a formação de glóbulos vermelhos, a síntese de material genético e o funcionamento do sistema nervoso e imunitário.
Isto significa que espécies como a sardinha, o carapau, a sarda ou a cavala são um excelente alimento.
Quer saber mais sobre o peixe de aquacultura? Deixe-nos as suas questões. Prometo voltar ao tema com mais dicas e opiniões de especialistas.
Narcisa Bandarra é investigadora e Chefe da Divisão de Aquacultura, Valorização e Bioprospeção do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Autor
Catarina Furtado