A lactose é o açúcar presente no leite e nos seus derivados, como alguns tipos de queijo ou iogurtes, e nem sempre é bem tolerada pelo organismo. Perceba porquê.
Os temas da intolerância à lactose e da alergia à proteína do leite de vaca continuam a despertar algumas dúvidas e a quantidade de informação que prolifera não tem ajudado. Devemos ou não beber leite e em que circunstâncias?
Para obter um melhor esclarecimento sobre o assunto, decidimos falar com a professora Conceição Calhau. Nutricionista e Professora Associada com Agregação de Nutrição e Metabolismo na Nova Medical School – Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, é também coordena a Licenciatura em Ciências da Nutrição, e investigadora do CINTESIS, onde dirige a linha Medicina Preventiva & Desafios Societais
Intolerância à lactose ou alergia à proteína do leite
A intolerância à lactose e a alergia à proteína do leite são temas completamente diferentes.
A intolerância à lactose decorre da dificuldade do organismo em processar este açúcar, devido à diminuição ou à ausência de lactase (enzima que a digere). A sintomatologia da intolerância está, sobretudo, relacionada com o sistema intestinal ou digestivo.
A alergia à proteína do leite diz respeito a uma resposta do sistema imunitário às proteínas do leite. Os sintomas podem ser digestivos, cutâneos, respiratórios ou até culminar numa reação anafilática.
Deficiência de lactase e má absorção da lactose
A deficiência de lactase caracteriza-se por uma atividade menor da enzima lactase, essencial para a digestão do leite, por comparação a indivíduos ditos ‘normais’.
A má absorção da lactose, por sua vez, caracteriza-se por uma falha na absorção intestinal de uma fração significativa da lactose ingerida.
No que diz respeito à má absorção da lactose ela pode ser primária ou secundária.
A má absorção da lactose primária pode ter três subtipos: congénita, adquirida, ou do desenvolvimento.
A má absorção da lactose primária congénita, autossómica recessiva, é muito rara. Nestes casos os bebés nascem sem a capacidade de hidrolisar a lactose. Antes do século XX esta situação não era compatível com a vida. Hoje, desde que feito o diagnóstico à nascença e seja seguida uma dieta sem lactose, não há risco de vida.
Por sua vez, a má absorção da lactose primária adquirida, autossómica recessiva, é muito frequente. Caracteriza-se pela perda da expressão da enzima depois do desmame. A manifestação pode acontecer na primeira infância ou na vida adulta, frequentemente antes dos 20 anos de idade.
Por último, a má absorção da lactose primária do desenvolvimento caracteriza-se por uma deficiência em lactase que ocorre nos bebés prematuros (entre as 28-32 semanas de gestação). Nesta situação recomenda-se a exposição precoce à lactose de modo a ‘induzir’ a expressão da enzima. Trata-se de uma situação transitória.
Quanto à má absorção da lactose secundária, é uma situação transitória. Ocorre já na idade adulta, em adultos ‘tolerantes’ que, por causa de uma patologia gástrica e/ou intestinal, perdem a capacidade de expressar a enzima. Uma das causas poderá ser a SIBO (small intestinal bacterial overgrowth). Para confirmação de suspeita de diagnóstico, além da história clínica, deve ser realizado um teste específico.
Beber leite faz mal?
Muitas pessoas têm dúvidas se o leite faz bem ou mal. No entanto, a menos que sofra de algum tipo de intolerância ou má absorção, beber leite não faz mal. Antes pelo contrário.
Os laticínios, nos quais se inclui o leite, fazem parte do padrão da Dieta Mediterrânica e sempre se incluíram nas recomendações da Roda dos Alimentos.
O leite, tal como os outros produtos do seu grupo (queijo, iogurte, etc.), é um alimento nutricionalmente muito rico, cálcio, vitamina D (se não for “magro”) e proteínas de alto valor biológico.
O consumo de produtos lácteos deve ser frequente e moderado, como sugere a Dieta Mediterrânica.
As recomendações, para adultos saudáveis, será de duas a três porções por dia. Perante a opção ou necessidade de excluir o leite de vaca da dieta, deve ser feita uma compensação, incluindo alimentos que forneçam os nutrientes encontrados no leite.
Quer saber mais sobre o leite, a lactose e as respetivas alternativas alimentares? Deixe as suas questões à nutricionista online.
Sintomas de intolerância à lactose
- Dores de estômago ou cólicas
- Diarreia
- Flatulência
- Náuseas
- Inchaço abdominal
Sintomas de intolerância à lactose em bebés (intolerância congénita)
- Choro inconsolável depois de mamar ao peito ou biberão
- Diarreia persistente
- Gases
- Ruídos fortes de intestinos
- Dor de barriga, cólicas intensas
- Prisão de ventre
Alimentos alternativos à lactose (fornecedores de cálcio)
- Peixe do qual se pode comer a espinha (sardinhas ou peixe miúdo);
- Vegetais de folha verde-escura (agrião, espinafres, couve portuguesa, etc.);
- Frutos oleaginosos, com a amêndoa, a avelã e a castanha do Brasil;
- Algumas leguminosas como o grão de bico, o feijão e a soja;
- Bebidas vegetais enriquecidas em cálcio e algumas vitaminas do complexo B.
Nota: Esta informação é meramente indicativa não pretendendo, em qualquer momento, substituir as orientações médicas especializadas.
Autor
À Roda da Alimentação